segunda-feira, 26 de agosto de 2013

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Ainda estávamos no Campo do Esclarecimento, quando João Guiné começou a falar: –Amigos, sei que muitas dúvidas estão perturbando suas mentes e principalmente a sua Ortêncio. Eu ainda estava meio que em transe, pensando em tudo que havia visto naquele lugar e perguntei: – Como, João, podem existir outras Aruandas? E com seres tão superiores a nós dessa maneira? – Meu querido amigo, as moradas do Pai Celeste são muitas e nós evoluímos e aprendemos. Assim, vamos mudando de esferas para sermos mais úteis, conforme nossa evolução. Nosso irmão Samuel tem muito a ensinar a cada um de nós, porém, se ainda vivesse nesta cidade seu aprendizado ficaria limitado. É como impedir um estudante que terminou o ensino comum de ingressar na faculdade e isso seria injusto com o irmão, você não acha? – Sim, mas e a separação que se dá daqueles que nós aprendemos a amar? Parece-me que a vida é feita de separações, é isso o que eu acho injusto – respondi ao amigo. Porém, desta vez, Maria, que se aproximara do grupo sem que eu percebesse, respondeu-me: – Manoel, meu querido, não nos separamos de ninguém quando nossos laços de amor são eternos. Por quanto tempo ficamos em esferas diferentes, mas o nosso amor resistiu a todas elas e, sempre que possível, estamos juntos. Isso é a bondade de Deus, pois o que ele juntou com amor nada pode separar. Então, meu amado Manoel, aprenda a se desprender, pois o amor verdadeiro liberta. Eu, mais uma vez, percebi o quanto ainda era apegado e o quanto teria que aprender. Então, Pena Branca falou: – Meus amigos, podemos ir agora, pois o general não gosta muito de atrasos. Saímos do Campo do Esclarecimento e caminhamos na direção sul da cidade, onde havia um grande portão, em branco, azul e vermelho com uma enorme estrela de Davi ao centro. Na placa ao lado havia a inscrição: Cidade de Ogum, onde a honra e o amor ao pai são nossas armas. Henrique apenas colocou a mão no portão que, automaticamente, se abriu. Estávamos em um bairro militar. A nossa frente havia uma enorme fonte, com um lindo chafariz. No meio da fonte como que surgindo de dentro da água tinha uma enorme imagem de São Jorge. Várias inscrições em grego decoravam a fonte, bem como símbolos que eu nunca tinha visto. O cenário era espetacular. As casas repetiam o padrão de cores do portão e símbolos de guerra eram vistos em suas portas. Muitos caminhavam pelo bairro, alguns com armaduras medievais e quando olhei novamente para Henrique, notei que ele mesmo já usava uma linda armadura de prata, ostentando a estrela de Davi no seu ombro esquerdo, bem como em sua capa vermelha. Sua fisionomia agora era mais séria, típica de generais de guerra. Enquanto caminhávamos, passamos por senhores e senhoras montados em cavalos brancos e todos bateram continência ao general que ali se apresentava. Andamos até um grande galpão, cujas portas de aço com quase cinco metros de altura me surpreenderam. Dois guardas faziam a segurança do local com lanças douradas na mão. Lembrei-me do velório do meu corpo, quando eu vira guardas parecidos com esses e que faziam minha segurança. Paramos na frente dos guardas e Henrique disse-lhes: – Salve Ogum, o nosso general maior. Eles responderam e Henrique fez a apresentação do grupo: – Peço-lhes permissão para entrar na sala das armas com a comitiva de mensageiros de Aruanda, pois o General de Guerra Ricardo nos aguarda para uma audiência. Os guardas apenas descruzaram suas lanças sem nada dizerem e quando eu achava que já tinha me acostumado com tudo na cidade de Aruanda e que nada mais me surpreenderia, eis que se abre na minha frente uma enorme fábrica de armas do plano espiritual. Ela se apresentava como se fosse uma grande metalúrgica do plano físico, com máquinas enormes, fornos para forjar armas em caldeiras, bem como linhas de produção, em que homem e mulheres se apresentavam em uniformes que eram compostos por luvas e avental de couro. Eles trabalhavam na fabricação e montagem de armas de vários tipos. Eu não conseguia sequer falar algo tamanha minha surpresa, foi Humberto o primeiro a se manifestar: – Henrique, que diabo é isto, meu irmão? Henrique e nós todos rimos gostosamente da pergunta de Humberto. E ele lhe respondeu: – Humberto, estamos em uma das poucas fábricas de armas do plano espiritual. Daqui sai armas para várias cidades. Algumas muito conhecidas pelos encarnados. – Mas, para que serve estas Armas? – perguntou Humberto. – São armas energéticas: sua função não é matar e sim paralisar espíritos que resistem e entram em confronto com cidades do bem. Assim, protegemos nossas cidades de ataques e de invasores, amigo. Eu estava maravilhado e perguntei: E o que viemos fazer aqui? –Montar uma estratégia de guerra com nossos especialistas locais, Ortêncio. Ou você achou que seria fácil irmos às profundezas do umbral?

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