segunda-feira, 12 de agosto de 2013

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Saímos do setor da cura e, logo após eu me recompor, deixamos aquela Legião, para a qual, eu sabia, logo voltaria para que pudesse continuar aprendendo, bem como ajudando os meus filhos e amigos que lá eu deixara. Pena Branca caminhava em silêncio, assim como o restante de nós, que buscávamos no verde das matas e no aroma daquele lugar restabelecer nossas energias. Até que o índio amigo foi mudando suas vestes para algo mais comum e sem penas. Eu me assustei com a transformação e ele sorrindo me explicou: – Não se assuste amigo, o espírito tem escolhas e, embora eu me sinta mais à vontade com minhas vestes de índio, temos que saber nos portar em todos os lugares. – Não me incomodou vê-lo mudar suas vestes, Pena Branca, o que me impressionou foi: como você fez isso? – respondi. Desta vez, foi Humberto quem me respondeu: – Ortêncio, meu amigo, o espírito pode dar a forma que desejar ao seu perispírito, pois o espírito sendo eterno e vivendo várias vidas pode escolher a forma daquela que mais o deixa confortável. – Então, quer dizer que eu posso me vestir como quiser e escolher o rosto que eu quiser ter? – Sim – respondeu Henrique – mas não exatamente dessa forma, ou seja, você nunca conseguirá se passar por algo que não é ou mudar seu perispírito para enganar o outro, a não ser que o outro também esteja mau intencionado, claro. – Como assim? – perguntei a Henrique. – As pessoas, Ortêncio,  têm o costume de falar que foram enganadas ou magoadas pelo outro, mas se esquecem que elas permitiram de alguma forma que isso acontecesse. Os charlatões só existem porque as pessoas os procuram, querendo amarrações para o amor, fórmulas mágicas para empregos ou melhorar de vida. Quantos não te procuraram com esses objetivos, quando você atendia na terra? Por isso que em nenhum lugar existem coitadinhos, mas sim uma lei chamada Lei de causa e efeito. A essa altura, já estávamos na rua de paralelepípedos e caminhávamos banhados por um lindo pôr do sol. Algumas pessoas faziam fila em frente ao portão do Campo do Esclarecimento. Curioso, Humberto perguntou a respeito do que estava acontecendo. – Hoje, uma Legião de fora da cidade fará a palestra de esclarecimento. Acho importante que nós possamos ouvir as palavras de nossos irmãos – disse João. Começamos a entrar, desta vez o Campo do Esclarecimento estava envolvido por uma energia forte, também o cheiro de ervas era forte, mas acolhedor. Estávamos em uma enorme pedreira, onde milhares de espíritos se acomodavam nas pedras, que formavam uma enorme arquibancada. Acomodamo-nos bem em frente a enorme queda d’água, donde víamos que uma esplendorosa lua nascia por detrás da cascata abundante. Um enorme palanque fora montado em que vários espíritos estavam sentados e um também havia um púlpito de pedra que seria ocupado pelo palestrante do dia. Entre os espíritos nas cadeiras reconheci Ubirajara, Gabriel entre outros, todo chefes das legiões. Um tom formal era dado àquela visita tão especial e logo saberíamos o porquê. Quando nós todos estávamos acomodados e em silêncio, Ubirajara levantou-se foi ao púlpito e falou: – Que Deus todo poderoso e nosso Pai Oxalá nos abençoe nesse dia especial, quando espíritos divinos nos presenteiam, mesmo sem que mereçamos, com a presença da Sétima Legião de nosso pai da justiça Xangô. Aplausos ecoaram por todo o Campo do Esclarecimento e dúvidas e perguntas começaram a eclodirem em minha mente, pois, ninguém havia me falado de uma Legião de Xangô e de onde eles vinham, afinal? Henrique pôs sua mão sobre meu ombro e me disse: – Cada resposta ao seu tempo, não seja apressado...

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