domingo, 8 de setembro de 2013

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Chegamos a uma porta que também tinha a estrela de Davi, algo que já era comum naquele lugar. Contudo, esta apresentava uma diferença, nela também havia duas espadas cruzadas entre si. Imediatamente, meu coração disparou e a ansiedade tomou conta de mim por motivos que eu simplesmente desconhecia. Henrique, percebendo que eu estava inquieto disse-me: – Fique tranquilo, Manoel, pois sabemos que você está ansioso para reencontrar amigos queridos, que estão aqui e no plano material, saiba que todos eles começam a sentir tais pensamentos seus, bem como sua emanação de energia, e, como você, eles também estão ficando ansiosos por este encontro. – Você quer dizer que eles me sentem de tão longe? – perguntei. – E quem disse que você está longe, meu amigo? – respondeu-me Henrique – Nossa preparação é para irmos às zonas umbralinas, de baixas vibrações, pois, apesar da baixa vibração da terra, nós estamos ainda no mesmo plano e, para irmos trabalhar no campo terreno, só precisamos de boa vontade e amor no coração. Assim sendo, somos levados na velocidade da luz, onde quer que sejamos necessários. – Você quer dizer que quando eu quiser poderei ir socorrer quem necessita no plano terrestre? – perguntei-lhe animado. E foi a vez do sábio preto velho responder: – Sim, Manoel, logo que você ganhar mais conhecimento e, principalmente, tiver maior consciência da responsabilidade que terá de assumir junto àqueles que necessitam de ajuda, pois ir a terra não é para uma visita ou apenas para matar as saudades daqueles que por lá ficaram, mas sim para viver o comprometimento com o amor verdadeiro de Jesus. Dito isso, Henrique deu um passo à frente tocou a porta e ela se abriu. Vimos a nossa frente um grande auditório com uma média de quinhentas cadeiras, quase todas ocupadas. Um homem negro, parado perante a porta, nos anunciou: – Senhores Comandantes, Generais e Majores da Sétima de Ogum, esta é a equipe de Mensageiros de Aruanda. Peço-lhes que os saúdem com carinho e amor, pois eles carregam nos ombros uma grande responsabilidade: a de levar aos que vivem na terra notícias das Cidades do Além. Todos se levantaram e em coro começaram a cantar: Ogum quando descer Deus manda, Ogum quando descer Deus manda, para salvar os filhos seus, Ogum é meu pai, Ogum é meu guia, Ogum é meu pai, Ogum mensageiro de Maria. Íamos dirigindo-nos à frente do auditório e o canto, que eu já conhecia dos terreiros de umbanda, me encheu de energia, como nunca antes, pois era cantado com tanto amor e verdade que emocionava a todos nós. Quando chegamos ao palco daquele lugar, a música parou. Então, um homem, moreno, alto, de olhos castanhos como o mel e com a barba por fazer, aproximou-se de mim. Vestido com uma linda armadura prata e portando uma capa azul, ele ajoelhou-se aos meus pés e tirando sua espada da bainha e a depositando na minha frente, disse-me: – Salve Ortêncio, chefe de terreiro, agora Manoel mensageiro, filho de Deus Pai Todo-poderoso. Esta legião te saúda por aqui e esta e te propor que, com a Legião de Ogum, tu sejas mensageiro de Oxalá! A cena era impressionante. Eu, que estava muito emocionado, ajoelhei-me e abracei o jovem cavaleiro. Recebi a espada e, então, quando a levantei, o auditório explodiu em palmas e em gritos de Viva! Devolvi-lhe a espada e ele se retirou com lágrimas nos olhos. Henrique foi o primeiro a falar: – Senhores, estamos aqui para nos colocar a serviço desta Legião e, principalmente, pedir vossa ajuda nessa nova fase do nosso trabalho, pois, como bem sabemos, não será fácil para nós. Nesse momento, um homem aparentando uns quarenta anos de idade e vestido apenas com uma calça azul e uma camisa vermelha, levantou-se e nos disse: – General Henrique, por que razão esta Legião deveria apoiá-los em uma guerra tão difícil, uma vez que, de acordo com algumas revelações, sabemos das dificuldades que todos enfrentaremos junto ao plano dos que vivem na carne. Que prova afinal nos dará, de que sua equipe de mensageiros está preparada para lidar com as dificuldades? Impressionei-me com o modo envolvente com que aquele homem falava e como seus argumentos eram sólidos. – César, com meus respeitos, digo-lhe que não sabemos nada a esse respeito, pois há perguntas que só podem ser respondidas no campo de batalha – respondeu-lhe Henrique, com coragem e firmeza. Nós estamos recrutando os melhores e estamos sob a supervisão e a autoridade de Oxalá. Sei que sou um guerreiro como vocês e que preciso de fatos e de estratégia. Porém, nesse momento, sou guiado pela Fé, pois esta equipe vem sendo preparada há centenas de anos. Mesmo antes de a Umbanda chegar ao plano material, alguns aqui já se preparavam para esta missão. Sabemos de todas as dificuldades e, por isso, senhores, é que precisamos e contamos com toda a ajuda possível e que será aceita. Desta vez, quem se levantou foi uma mulher de cabelos loiros como ouro, de sorriso espontâneo e que trazia no braço a tatuagem de uma espada. Dirigindo-se a mim, falou-me: – Manoel, sou Joana da Sétima, venho acompanhando seus avanços e sua dedicação até aqui, mas me preocupa seu apego para com os que lá ficaram, uma vez que você terá que conviver com pessoas que lhe são próximas. Será que você saberá separar isso, meu amigo? – Joana, venho me preparando para isso. Ainda sou um ser com sentimentos, como todos vocês, e darei o meu melhor para que tudo corra como planejado. Ela sorriu com minha resposta e sentou-se. Ainda debatemos por algumas horas. Outras questões lógicas foram levantadas pelo grupo, pois auxiliariam a elaborar nossas estratégias. Até que César falou a todos: – Amigos, vemos aqui um grupo de filhos de Deus, que se propuseram a trabalhar em um campo de batalha quase desconhecido por nós e em auxílio ao plano material, como mensageiros de Oxalá! Peço ao Divino Pai que os proteja e que junto a eles estejam a sabedoria, o amor e o carinho ao próximo. Mesmo sabendo que este próximo poderá vir ser um inimigo. Peço a João Guiné que autorize a ida de Joana junto com vocês, a fim de que ela possa nos mandar notícias e ajudar nas estratégias de mais esta Legião. Conceda-lhe sua benção e ela estará disposta a ajudar no que for necessário. Que Ogum, nosso guerreiro maior, vos acompanhe...

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