quinta-feira, 20 de junho de 2013

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Eu tinha pouco tempo com meu neto, os meus amigos espirituais não permitiram que lhe perguntasse a respeito da minha família. Então, falamos apenas daquilo que era importante no momento. Pedi-lhe que me emprestasse sua mão e o conhecimento que ele logo adquiriria com os estudos da doutrina dos espíritos. Henrique o abraçou com muito amor e, com os olhos cheios de lágrimas, disse-lhe: – Não será fácil para nenhum de nós, pois muitos já se colocaram contra este trabalho. Mas, confiemos em Deus, nosso pai, que nos protegerá e nos dará forças para que possamos fazer o melhor. Dois guardiões que faziam a escolta do médium se aproximaram. Um deles falou algo a Ubirajara, que disse por fim: – É hora de você ir. Depois de um longo abraço, o ainda jovem médium partiu de volta ao corpo físico. Nós ainda ficamos por ali, planejando quando iria ser nossa próxima etapa de trabalho, quando Eric disse me falou: – Acredito, Ortêncio, que já não haja necessidade de você continuar no hospital e creio eu que você esteja ansioso por ir morar com Maria e Henrique. Eu não me contive de alegria, mas ele continuou falando: –Então, após você se acomodar em seu novo lar gostaria que você fosse conhecer o seu local de trabalho na legião de Omolu. João e Henrique te mostrarão tudo, pois Maria e eu temos outros afazeres. Dito isso, nos cumprimentamos e logo estávamos no portão de saída da Morada dos Anjos. Agora, no entanto, eu já conseguia ler todas as placas e avisos. Como uma criança, me juntei aos pequenos e brinquei, sorria com aqueles espíritos que enchiam meu coração de alegria: eu queria dividir com o mundo o que estava sentindo. No caminho para o hospital, perguntei aos amigos: E agora, queridos, o que nos aguarda? João foi quem me respondeu: –Muito trabalho! Ortêncio, teremos que te mostrar a cidade e seus mecanismos, sua organização geral, os trabalhos que são desenvolvidos junto à crosta terrestre, bem como os socorros espirituais que nos compete realizar nas zonas umbralinas e também nossos ministérios e nossos meios de intercâmbio com outras cidades espirituais. – Como assim? Há participações em outras cidades espirituais?
– Ortêncio, meu amigo, não somos os únicos a trabalhar no plano espiritual. Milhares, senão milhões de cidades, algumas maiores, outras menores ou do mesmo porte desta, trabalham para que o universo esteja em constante crescimento. Aruanda é apenas uma gota no oceano abençoado de Deus. Você falou em organização, como é isso? – disse-lhe. Ele me respondeu: Em Aruanda, trabalhamos com os Orixás para facilitar o entendimento dos que aqui chegam, mas e nas outras cidades? Cada uma, meu amigo, adota o método mais prático e eficiente para ajudar seus moradores. Afinal, imagine como seria se trouxéssemos a esta cidade um espírito que viveu, por exemplo, como um protestante. Ele enlouqueceria! Existe um Conselho, do qual participam espíritos superiores e que organiza cada cidade espiritual governada por Jesus. Esse Conselho estabelece como cada cidade espiritual irá trabalhar. Cada tipo de trabalho é respeitado por todos nós, pois todos eles têm um motivo, correspondem a um propósito. Você irá logo mais conhecer nosso irmão Humberto, que vem da cidade Nascidos em Cristo, que é uma cidade evangélica. Ele também fará os mesmos estudos que você. – Por que um evangélico aqui? –perguntei surpreendido. Foi Henrique quem respondeu: – Ele está estagiando, Ortêncio, alguns de nós fazemos isso. Passamos algum tempo em outras cidades, aprendendo novas técnicas e culturas diferentes. Como nos intercâmbios que existem na terra, aqui também precisamos conhecer outras culturas. Eu estava maravilhado com a sabedoria de Deus e, quanto mais aprendia com meus amigos, mais ficava encantado com tudo aquilo. Eu sempre acreditei que os mortos não voltavam para contar como era depois da morte, e eu irei fazer isso! Voltarei ao mundo dos vivos com informações preciosas! – eu disse. – Sim, meu amigo, mas lembremos que outros, muito antes de você, também já levaram e ainda levam informações do além ao povo da carne e é importante lembrarmos ainda que não somos donos da verdade. Falaremos de nossa cidade e de algumas outras, que iremos visitar, e esperamos assim mostrar aos amigos da terra que assim como lá, aqui também é necessário respeitar as diferenças. Pois, independentemente do caminho, todos eles levam ao pai maior. – disse-me João Guiné. Então, eu perguntei: – Henrique, eu observei que você tem certo carinho pelo Médium que irá nos ajudar. Vocês se conhecem? – Sim, Ortêncio, eu serei um dos espíritos que terá a oportunidade de também se comunicar pelo rapaz. Aliás, juntamente com outro irmão que logo você conhecerá. Sou responsável por protegê-lo e, desde a sua volta ao plano físico, venho acompanhando sua evolução. – Como assim, protegê-lo do quê. Ele corre algum risco? – É muito fácil se desviar do caminho, quando estamos na carne, Ortêncio. Quantas vezes você mesmo quis desistir? Mas, nos momentos mais difíceis, sentia uma força que não sabia de onde vinha e que renovava sua vontade de voltar ao caminho. Apesar de não podermos obrigar os que na carne a vivem agir da maneira correta todo o tempo, pois a lei do livre-arbítrio é uma lei de Deus e, assim sendo, é inviolável. Como espíritos nós incentivamos e tentamos mostrar que seguir a Jesus. Cabe a cada um decidir o que fazer. – Então, ele pode desistir? –perguntei. – Sim – respondeu João – e você também – ele disse, calmamente. – E o que vocês fariam? – Nada – respondeu o Preto Velho, com a maior naturalidade que pôde expressar. Eu, indignado, disse-lhe: – Como assim? Nada? E Henrique, sorrindo, falou: –Lógico que faríamos algo, Ortêncio! Arrumaríamos outro para fazer o seu trabalho ou você acha que é o único capacitado pata isso?...

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