sábado, 1 de junho de 2013

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Eric era um espírito iluminado e sentíamos que dele emanava uma energia de amor, sua aparência era jovem, tinha pele clara e olhos verdes e seus cabelos mais pareciam fios de ovos encaracolados. Ele disse-me: – Impressionado, Ortêncio, por um filho de Omolu não ser negro ou cheio de feridas como diz a lenda? Eu sorri e lhe respondi: – Não, amigo Eric, nada do lado de cá me surpreende mais... É, aqui, vocês gostam de ser diferentes para nos fazer pensar. Todos rimos, e Eric voltou a falar: – Sim amigo, gostamos de ensinar surpreendendo. Mas, principalmente, de mostrar ao mundo, tanto o material quanto o espiritual, que não existe um jeito certo ou errado de fazermos o bem, o amor, a caridade em nossa evolução em direção ao pai celeste. Sempre será feito o que realmente importa que seja feito, independentemente da forma como isso irá se dar. Tenho orgulho, meu amigo, de ver que você começa a pensar como um espírito, aceitando que aqui, como na terra, estamos sempre em constante aprendizado. E, hoje, meu amigo Mensageiro de Aruanda, lhe trouxemos a este local para que recorde algo que será muito importante para  sua nova caminhada. Eu já estava emocionado com as palavras de Eric, e confesso que com um pouco de medo de não ser capaz de corresponder às suas expectativas sobre mim, quando João Guiné disse-me: – Ortêncio, sentir medo é bom, porém não permita que o medo o impeça de fazer aquilo que tem que ser feito. Você está entre amigos e aqui encontrará tudo o que for necessário para que sua nova caminhada seja um grande aprendizado, tanto para nós quanto para aqueles que ainda se encontram na carne. Eu sorri e lhe disse: – Por que me chamam de mensageiro? E qual missão é essa, assim tão importante, que eu ainda não entendi? Apesar de Ubirajara já ter falado alguma coisa sobre isso, ainda tenho muitas dúvidas. Foi Eric quem me explicou: – Ortêncio, há aproximadamente 90 anos, quando você saiu dessa cidade para uma nova experiência na carne, ficou decidido, juntamente com alguns amigos espirituais, que, quando você retornasse à vida espiritual, somaria a sua nova experiência a outras já vividas anteriormente, e levaria informações do nosso trabalho nesta cidade a outras esferas. Como isso se dará? Escolhemos um médium escrevente, para que você, depois de muito estudo, meu amigo, passe a ele as informações acerca do nosso trabalho. Isso já é feito com grande sucesso por mensageiros de muitas outras cidades espirituais, espíritos que se propõem a preparar nossos irmãos na carne para a vida espiritual. Porém, amigo, você se juntará a um pequeno grupo, que vem tentando derrubar os preconceitos criados pelas religiões preocupadas com a chamada pureza doutrinária, e, desse modo, esquecendo que o pai maior olha para todos igualmente. Eu, que agora estava mais assustado que antes, disse: – Como farei isso? Se eu mesmo sou um desses que não tenho o conhecimento e dediquei minha vida à religiosidade sem prestar atenção ao que realmente importava? Então, foi a vez de Maria falar: – Manoel, meu querido, viu como os espíritos superiores escolheram bem? Você já sabe dos seus erros, agora é hora de trabalhar considerando a eles e, assim, levar aos novos espíritos que habitam na carne que o que importa para o Pai é a religião em si mesma, pois todas as religiões foram criadas com finalidades específicas. Por exemplo, como vamos querer que espíritos rebeldes, que precisam de regras rígidas, sejam espíritas, uma vez que no Espiritismo se prega uma doutrina baseada na própria responsabilidade? Esses espíritos, naturalmente, deverão ser encaminhados a religiões com dogmas mais fortes e regras duras para não saírem do controle ou voltarem a errar como antes. Como um espírito com mais responsabilidade e que já foi até castigado por suas crenças rígidas poderia voltar ao seio de uma religião ainda muito severa? Ele é necessariamente encaminhado a uma crença de princípios mais brandos, em que se considera a liberdade de escolha, de acordo com a sua compreensão, antes de tudo. Mas, os religiosos não entendem a importância de cada religião e perdem seu tempo acusando-se mutuamente, quando deveriam se unir e trabalhar juntos para um bem maior. É por isso que levaremos essas informações aos que querem aprender. – Então, escreverei através de um médium umbandista sobre o que aqui acontece? – Não – disse Eric – você escreverá por intermédio de um médium espírita, para que, assim, mais pessoas possam ter acesso ao que for escrito. O seu companheiro de trabalho conhecerá a umbanda e mesmo outras denominações religiosas e, juntamente com você, também terá que aprender a respeitá-las. – E como farei isso? Se não me recordei até agora como se escreve? – Isso não seria necessário, Ortêncio – falou João –, mesmo que começássemos o trabalho hoje, pois seu companheiro de viagem é alfabetizado e você usaria o conhecimento dele. O trabalho desenvolvido entre os espíritos e encarnados, é de parceria, amigo. Os dois devem dividir seus conhecimentos para que, assim, busquem aprender cada vez mais. Se os médiuns dependessem apenas dos espíritos, como ficaria a evolução? Não foi Jesus que nos ensinou a todos: buscai e achareis? É assim também conosco, aqui desse lado. – Porém – disse Eric – trouxemos você aqui para que se recorde de algumas coisas que te ajudaram nessa caminhada. Vamos entrar. O prédio era uma fantástica morada dos sonhos, pintada em várias cores, onde a alegria era contagiante. Entramos em um grande pátio, cheio de mesas e cadeiras. Era a hora da refeição e as crianças estavam sentadas. Embora estivessem em silêncio, uma onda de alegria flutuava no ar. Quando, então, um garoto de aparência sapeca veio correndo em minha direção: – Benção tio! Segurou em minha mão e pulava e girava, me obrigando fazer o mesmo. – Que bom, tio, que você chegou! Eu estava preocupado! Eu agradeço sua preocupação, meu filho, mas nos conhecemos? Ele parou e com um ar sério disse: – Sim, Senhor Ortêncio! Por anos fui ao seu terreiro, através de uma das suas filhas. Lá eu trabalhei, brinquei e pude evoluir, ajudando nas suas giras dedicadas a Cosme e Damião. Obrigado! – disse o menino, que saiu pulando em direção a outras crianças. Oh molecada esperta! – disse João. Subimos uma escada que nos levava à parte do prédio dedicada aos estudos, mas as salas de aula estavam vazias. – Este prédio é uma unidade de ensino para os pequenos, Manoel – disse Maria. Aqui eles são tratados, estudam e recebem todas as orientações para quando estiverem prontos à mudança de seus perispíritos e poderem voltar a agir como espíritos adultos. – E por que eles resolveram permanecer assim? – perguntei. – Muitos deles desencarnaram crianças e ainda precisam de ajuda para entender que o espírito não tem idade. Outros, como o Adriano, que falou com você, preferem ficar dessa forma, ajudando aos que aqui chegam. Entramos em uma sala de aula como as que existem na terra, cheia de desenhos e trabalhos escolares nas paredes. Então, sentei-me em uma das cadeiras. O único a permanecer em pé foi Eric que me disse: – Agora, Ortêncio, quero que preste muita atenção em tudo que verá aqui. As luzes se apagaram, o quadro negro se transformou em uma enorme tela e nela começou a passar um filme que eu não esqueceria jamais: o filme das minhas reencarnações...

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