Nossa estadia naquele local abençoado
não foi tão rápida como eu pensara e, após sairmos daquela que classifiquei
como a ala dos coletores, passamos por uma outra ala, onde nos energizamos
através de passes e nos alimentamos de um delicioso caldo. Então, fomos
encaminhados a uma sala rústica de chão batido e paredes de tijolos. Nesta sala
de reuniões havia uma mesa redonda e cadeiras, todas de madeira rústica. Para
minha grande surpresa já se encontravam sentados à mesa Ubirajara, da sétima de
Oxalá e Samuel, da sétima de Xangô, juntamente com Gabriel, da sétima de Exu e
com Iraci. Todos nos sorriram e nos cumprimentaram com grandes e calorosos
abraços. Logo após os afagos fraternos, Ubirajara começou a falar: – Filhos de Aruanda,
nossa visita a este local de socorro e amor não é apenas para matar as saudades
de vocês, viemos de nossa cidade expressar nossas preocupações e dar ordens
para uma nova direção em vossa viagem. A fala do índio era cautelosa, mas
transparecia sua preocupação. – O alto recomenda que vocês
visitem a cidade umbralina denominada Nova Geração, instalada em zona muito
densa, abaixo da terra, onde muitos de vocês nunca estiveram. Ocorre por lá uma
agitação ainda pequena, é verdade, mas que pode provocar muitos eventos catastróficos
para os encarnados. Irão em missão de paz. Aqueles que lá estão sentirão vossa
presença. Vossa missão é proporem a paz, evangelizando e levando o amor do Pai
àqueles que vivem na escuridão. João Guiné, que olhava apreensivo para a mesa,
parecendo concentrado em seus desenhos, levantou o olhar calmamente e
disse: – Amigo Ubirajara, não estou me colocando contra o que o alto nos pede, mas
me pergunto: por que mandar uma equipe ainda em treinamento para tal zona
umbralina? Por dois motivos, Pai Velho – disse a voz de Samuel, que de
tão grave parecia que derrubaria as paredes. A mim, que tinha visto Samuel
apenas uma vez no campo do esclarecimento, ele parecia bem maior de
perto. – O primeiro deles é que vocês conseguirão entrar e sair com mais facilidade,
pois os dragões olharão com desprezo para um grupo não tão bem treinado, o
segundo é para que o repórter de Aruanda possa relatar posteriormente aos
viventes aquilo que vir, o que consideramos muito importante. O Preto Velho
sorriu e disse: – Que nosso Pai Oxalá nos acompanhe. Henrique se levantou e
perguntou: – E qual será nossa estratégia para uma missão como essa? Gabriel, que
como sempre usava o branco habitual (custava acreditar que ele era chefe dos
guardiões), respondeu: – Já que os vi de forma tão errônea em minha última
passagem pela terra, vocês receberão veículos mais modernos que os deixarão
quase invisíveis aos olhos dos generais da cidade. Retirarão de lá apenas
aqueles que lhes forem permitido retirar, bem como os que vierem de boa vontade.
Nada mais que isso. Os termos devem ser negociados com o general Estácio, que é
quem encontrarão. Para terem mais liberdade no trabalho, levem consigo
equipamentos, água em abundância e... Nesse momento, um ser abriu a porta, todo
vestido de azul, portanto uma cruz branca no peito. Era uma linda senhora de
cabelos brancos, olhos verdes, e que com um sorriso esplendoroso nos saudou,
dizendo: – Que a luz do Mestre redentor ilumine nossos corações e que o manto da
mensageira da paz nos proteja com amor e carinho. Gabriel, abraçando-a: – A equipe de
socorro de Maria de Nazaré, liderada por nossa irmã Glória. Eu já ouvira falar
dos socorristas de Maria, mas nunca imaginara que as energias emanadas por essa
equipe de socorro fosse tão iluminada. Todo aquele que está na luta do bem,
socorrendo seus irmãos, Mensageiro, está sob as ordens de nossa general Maria.
Um nome é só um nome, pois todas as missões de socorro passam pelo departamento
desse espírito iluminado. Sei que muitos questionamentos passam por sua cabeça
e a um deles respondo nesse momento: para o Cristo Jesus, tudo e todos
desse planeta são espíritos importantes na caminhada da evolução. Ele não se
importa a respeito de que recursos seus aliados irão usar para essa finalidade,
se irão se valer do auxílio de índios, pretos velhos, de irmãos católicos, ou
do trabalho de germânicos, asiáticos ou africanos. Aos olhos de espíritos como
o de Jesus e de tantos outros, espírito é espirito e nenhum, seja lá qual for,
ficara sem ajuda de Deus todo poderoso. Eu me encontrava entre lágrimas, por
vários motivos, um deles era em função do meu preconceito e que mais uma vez
caíra por terra, pois Maria mandara seu brasão para trabalhar com o povo de
Aruanda e isso me ensinara muito, sobretudo de que um nome é apenas um nome e
nada mais...
Nenhum comentário:
Postar um comentário