Helena era um ser muito caro de nossa
equipe e depois da partida de nosso veículo alguns de nós, incluindo a mim,
ficamos um pouco tristes com a sua decisão de permanecer naquela Colônia. Foi
Maria quem nos chamou a atenção: – Caros amigos, por que a tristeza, se Helena
tomou uma linda decisão e com isso nos ensina que uns dos principais passos a
nossa evolução é o desapego a tudo que possa nos atrapalhar ou nos impedir de
seguir em frente? Nossa irmã decidir-se por ficar para ganhar conhecimento pode
estar sendo visto, por alguns de vocês, como se fora um ato de egoísmo da parte
dela, mas, ao contrário disso, Helena venceu seu apego aos títulos, ao amor
egoísta, e se dispõe, em nome do Pai maior, a recomeçar. E, qual de nós
sentimos o chamado em nossos corações, além de Helena? Qual de nós enfrentamos
nossos egos, em nome do próximo e de algo maior? Nada é nosso e aquele
que desejar alcançar o reino dos céus que dê tudo o que tem, se desfaça de suas
riquezas e siga o chamado do Mestre Jesus. Para variar, fiquei mais uma vez
envergonhado com meu egoísmo e, só então, vi que se não fosse pela explicação
de Maria, eu perderia uma lição muito grande. – Meus fio, a caminhada é longa e
muito teremos que deixar para trás e teremos mesmo que abrir mão de muito e isso
não por que somos fracos, pois fracos são os que querem carregar tudo e todos
consigo. Somos como as ondas do mar sagrado que vão e vêm, deixando o que é
preciso abandonar e só levando consigo para o oceano o necessário – disse o
Preto Velho João Guiné com um lindo sorriso – Fios, quantas encarnações os fios
já tiveram? Muitos dos companheiros dos fios já estão à frente dos fios na
escala evolutiva e outros, infelizmente, ficaram para trás, mas o amor e as
lição que estes aprenderam com os espíritos, que Deus coloca nos vossos
caminhos, está com os fios e isso sim é o que conta, pois do que adianta está
junto e está sozinho, vazio e triste. Pois assim seria a vida de Helena, se não
tivesse ficado com nossos amigos, seu corpo perispiritual estaria em Aruanda,
mas seu coração não. Com sua decisão, ela levou Aruanda para dentro de si e a
terá sempre. Dito isso, nossa conversa correu com alegria e com entusiasmo:
sorríamos e contávamos de nossos tempos na terra. Isso nos enchia de alegria,
pois, diferentemente do que muitos pensam, nós também temos nossos momentos de
descontração. Ser espírito desencarnado é ser fonte de vida, luz e alegria,
como gosta de nos falar Ubirajara da 7a Legião de Oxalá, e foi assim que
passamos a noite, dentro do veículo de transporte que vencia a escuridão com a
velocidade do pensamento. Enquanto conversávamos, alguns guardiões ficavam em
alerta. Felipe, ao nascer do sol, chamou nossa atenção para um fato que até
então me passara despercebido. Entráramos em zona de mata fechada e passávamos
próximo de montanhas frias e, conforme o veículo avançava mata adentro, tudo ia
ficando frio e ganhando uma cor esmaecida, as folhas antes verdes e reluzentes
agora estavam enegrecidas, uma neblina baixara e quase nada conseguíamos
enxergar. Já o veiculo, que parecia ter vida própria, desviava com maestria de
árvores, que pela aparência deviam estar ali há séculos. Diminuímos a
velocidade e vultos tornaram-se visíveis a nós, sentíamos a energia pesada que
emanavam e que também começavam a interferir em nossos pensamentos: eu começara
a ouvir gritos de agonia dentro de minha mente. Henrique segurou minhas mãos,
enquanto dizia: – Sua mente, Pai, é a sua fortaleza, concentre-se no bem que
veio fazer e vigiai e orai ao Pai maior. Então, uma imensa muralha de madeira
se formou diante de nós e, antes de desmaiar, eu pude ver os índios que abriam
o portão daquele Centro de Socorro, que muito me surpreenderia...
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