terça-feira, 16 de setembro de 2014

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Os corredores iam ficando cada vez mais vazios de pacientes lunáticos e com mais médicos que circulavam utilizando diferentes tipos de uniformes, alguns de branco, outros de azul, e ainda outros vestindo uniformes na cor verde. Logo percebi que já não estávamos na Psiquiatria e sim em um Centro Cirúrgico. Chegamos a um elevador, alguns de nós esperaria o próximo, pois não caberíamos todos de uma vez. Assim sendo, entramos junto com a equipe, apenas eu, Maria, João e Helena. Essa última prestara muita atenção durante a viagem, mas mostrava um interesse ainda maior pelo Centro Hospitalar. Eu, que sou do tipo que não aguento ficar calado, dessa vez permanecia em silêncio, mas me esquecendo que no plano espiritual se fala também com o pensamento e não apenas com a boca. Portanto, ouvindo meus pensamentos, João indagou-me em resposta: – Por que uma cirurgia, Ortêncio? Essa é a sua dúvida, fio? – Sim. – respondi meio tímido, pois via que os tarefeiros estavam muito concentrados para responder a um velho curioso e não queria incomodá-los. – Comece a usar o olho do espírito, Ortêncio. – disse-me João. – Você olha nosso irmão muito superficialmente e, assim, acaba vendo apenas o que ele deseja te mostrar. Fechei os olhos por alguns segundos e tentei me concentrar e, quando o abri novamente, o que vi na minha frente, naquela maca, deixou-me horrorizado. Chego a dizer que não estava preparado para tal imagem e fiquei meio que paralisado, sentia também um cheiro forte de podridão invadindo minhas narinas e, por uns instantes, cheguei a perder o raciocínio. O corpo perispiritual daquele pobre infeliz estava coberto de bichos que pareciam sanguessugas. No seu rosto faltavam olhos e nariz, no tórax, haviam se instalado alguns ovoides que lhe sugavam as energias. Eu realmente não tinha esperança, não podia imaginar como ele seria salvo daquilo que ele mesmo criara para si. – Não perca as esperanças, Manoel. – disse-me Maria – O Pai não deixa nenhum de nós para trás. E o que para você parece o fim, para esse infeliz é apenas o recomeço. Nesse momento, o elevador abriu suas portas e eu estava de frente a uma tecnologia jamais vista pelos meus olhos. A primeira vista, aquela parecia ser uma sala de cirurgia comum, mas, olhando com um pouco mais de cuidado, tudo ali parecia ser surreal. Ficaríamos em uma sobressala com cadeiras e que nos separava do ambiente de cirurgia por um enorme vidro. Era um ambiente muito parecido com os que existem em hospitais-escola. De lá, teríamos uma visão ampla do que acontecia na sala de cirurgia. Ainda assim, mais abaixo uma grande tela transmitia o que acontecia para não perdemos nada. Os equipamentos do Centro Cirúrgico eram todos transparentes, mas ganhavam cores conforme as luzes que circulavam por dentro deles. Dessa vez foi Helena quem perguntou: – Pai velho, de onde vem esta energia que movimenta as máquinas? Dos vivos que frequentam a casa espírita ligada a este hospital, fia. Estas máquinas são alimentadas com a doação de fluido anímico que se recolhe no momento da prece, na oportunidade dos passes, com a fé dedicada demonstrada por cada um. Cada médium tem um tipo de energia, ela é armazenada e usada aqui para o bem daqueles que necessitam. Nesse meio tempo, a cirurgia já havia começado. O espírito recebia um tipo de anestesia com fluidos que caia sobre sua testa com uma pistola que parecia soltar eletricidade. Desse modo, eram retirados os vermes. Tudo, no entanto, foi sendo feito com muito cuidado. – Mas, por que eles não aplicam uma carga de energia para limpar de uma só vez o espírito? – perguntei, como quem via tudo aquilo como uma grande perda de tempo, pois já fazia duas horas que estávamos ali. – Porque os espíritos sofreriam um grave comprometimento em sem seu corpo perispiritual e em seu campo mental. – respondeu-me um homem que, até então, eu nem havia notado que estava ali. Todos sorrimos ao notar sua presença, tratava-se do diretor espiritual da casa que nos abrigara, Dr. Tomazine, acompanhado de outro espírito muito sorridente e de olhos brilhantes. Esse espírito irradiava uma luz paternal que envolvia a todos: – Este pobre espírito já terá uma caminhada difícil. – continuou o Dr. – Seu perispírito precisará de algumas reencarnações para se curar das chagas criadas pela falta de amor a si próprio. Por isso agimos com tanto cuidado, para que possamos amenizar esse sofrimento, e ajudá-lo a voltar a seu estado normal, com alegria e esperança, e não com traumas e dores. Nesse hospital, mensageiro, o tempo é o que menos importa. – disse-me o homem que acompanhava o Dr. – Aqui temos todo o tempo do mundo para fazermos o melhor, pois trabalhamos sobre a tutela Divina e curamos almas e não corpos. Acho que vocês precisam conhecer outra ala do nosso hospital para que possam entender melhor o que estamos falando. Então, deixamos o Centro Cirúrgico com aquele ser ainda sendo aparado por benfeitores do Mestre de Amor e Carinho, para vivermos mais uma lição que surpreenderia a nós todos e nos ensinaria que a Lei do Amor supera qualquer circunstância mesmo, ainda que na nossa ignorância possamos achar isso impossível...

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