terça-feira, 2 de setembro de 2014

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Dentro da sala, havia um consultório médico, no qual um homem alto, de jaleco branco, caminhava de um lado para o outro, esbarrando nos aparelhos e gritando contra as paredes: – Ela não irá destruir minha carreira. Não mesmo! Não mesmo! Eu serei um obstetra de sucesso e nada ou ninguém vai tirar isso de mim. Grávida! Grávida! Se minha família souber disso, vai fazer eu assumir esta criança. Pior! Vai me fazer casar com esta infeliz. Ficamos observando por minutos e não fomos percebidos pelo espírito que ali se encontrava, em estado de verdadeiro desequilíbrio. Percebendo nossa curiosidade, o preto velho João Guiné nos falou: – Entendo a surpresa de vocês, amigos. Sim, esses espíritos estão aprisionados, mas não por esta instituição e, sim, por eles mesmos. No momento em que despertarem, sairão daqui e serão tratados em outras alas. Mas, isso parece o tratamento que ocorre na terra! – eu disse com ar de revolta – Como eles podem ser tratados assim? Cadê o livre-arbítrio? E a evolução que deveria haver no tratamento dispensado no plano espiritual? – Ortêncio, as celas são para a segurança deles mesmos, ou aonde você acha que estariam estes espíritos, se eles estivessem soltos por aí? Em que estado terrível de obsessão não estariam aqueles que eles acusam como responsáveis por suas dores? A loucura aqui é tão grande e o grau de energia dispensada nela tão densa, que eles causariam grandes transtornos, mesmo em seres equilibrados. Esses seres não estão sendo privados de sua liberdade, pois a liberdade do espírito está em sua mente e não no lugar onde se encontra. Quando a mente deles se libertarem do mundo que eles mesmo criaram para si, essas celas não existirão mais. Envergonhado, baixei a cabeça, mas aquele local ainda me incomodava muito. – Este lugar te incomoda, Mensageiro, – disse-me Felipe – sabe por quê? – Não. – respondi cabisbaixo. – Primeiramente, porque você mesmo, em sua juventude na terra, já se perdeu nos labirintos da mente e se perdeu na escuridão do real e do irreal, ou você já se esqueceu disso? Respondi: – Não, Felipe, não me esqueci. – Em segundo lugar, por sua religiosidade. Religiosos como você acham que tudo no plano espiritual é feito de lindos lugares e que os espíritos são mansos e frágeis e se esquecem que o nosso Maior Exemplo, que nunca faltou com o amor, Ele, no entanto, era também severo no combate ao mal e nunca deixou que o mesmo vencesse ou que se passasse pelo bem. Vivemos tempos difíceis e de verdadeiras mudanças, aquele que espera apenas seres angelicais, tocando harpas, quando chegarem do lado de cá, correm o risco de vir parar em lugares como este. O amor tem várias formas e, mesmo que isso te assuste ou que você não compreenda, estamos aqui diante do amor celeste, pois se fosse diferente nem aqui estaríamos. Como você pode ver, esses seres são perigosos, concentram grande energia. O tipo de loucura aqui é diferente, eles não querem se esconder da realidade, mas sim destruí-la! Eles chegaram aqui munidos de todo o sentimento primitivo acumulado que podemos imaginar e esse sentimento os levou a esse estado de loucura. – Então, a loucura aqui tem nome. – disse Humberto. – Sim. – respondeu João – ódio, e falta de amor ao próximo. Esse é Carlos, ele foi namorado de Fabiana e a conduziu a fazer os abortos que se tornaram rotina na vida do casal. Carlos é ambicioso e já trabalhou para as trevas. Chegou aqui faz dois meses apenas, por meio de um resgate coletivo que fizemos na esfera inferior. Nesse momento, como se saísse de seu transe, Carlos olhou para nós e nos disse: – Vocês irão pagar caro por me deixarem aqui. Meus mestres irão vir em meu socorro e destruirão esse lugar. – Eles não precisarão vir aqui, amigo, nós iremos até eles e lhes levaremos a luz do Cordeiro. Como se tivesse sido tomado por um choque, Carlos se pôs a chorar. – Não, senhor, por favor, não! Eles vão me destruir, achando que fui eu que lhes dei sua localização. Por favor, não façam isso! – Acalme-se, meu irmão. Por que tanto medo? Conosco você estará seguro. – disse-lhe Luzia – Mas, para isso, precisamos que você aceite nossa ajuda e os tratamentos que lhe oferecemos para sua melhora. – Eu não tenho jeito não, minha senhora. Sou filho do demônio e fiz muito mal ao outros. Como posso ser ajudado e melhorar? – Aceitando os ensinamentos do Cristo e trabalhando para o bem maior. Assim, meu irmão, você conseguirá se libertar de toda sua amargura e poderá ajudar aqueles a quem fez mal, o que acha disso? – Isso me parece impossível, senhora! – Sei que pode parecer, mas pessoas amadas estão esperando para te ajudar. Seus filhos, que nem chegaram a nascer, eles cuidaram de você, a fim de lhe preparar uma nova vida. Fabiana logo irá se recuperar e também se juntará a você. Uma lágrima cai do rosto do médico e, aproveitando esse momento, Maria disse-lhe: – Carlos, você poderá salvar vidas, ao invés de destruí-las. O que você fez, já passou! Não se martirize por isso. Agora, pense no prazer de escrever uma nova história ao lado de Jesus. Nesse momento as grades da cela se desfizeram e os enfermeiros aplicaram-lhe um medicamento que permitiu que ele adormecesse. Com a presteza da equipe ele foi deitado em uma maca. Havia necessidade de urgência – Vamos. – disse Luzia – Levem-no para a sala de cirurgia, precisamos ser rápidos. E os enfermeiros saíram apressados, enquanto os seguíamos também acelerados...

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