quarta-feira, 16 de julho de 2014

Página 46

Estávamos todos preparados para a viagem, eu em especial me encontrava muito apreensivo, pois sabia o quanto teria que lutar com meus próprios sentimentos para retornar àquele local ou a locais parecidos, afinal, apenas os dirigentes de nossa comitiva sabiam exatamente onde iríamos desta vez. Antes de  partimos, ainda participaríamos do trabalho da casa espírita que nos abrigara a fim de colhermos mais informações para nossa viagem a respeito da grande legião. Eu observava uma enorme movimentação do lado de fora e uma imensa legião de irmãos, que antes não conseguiam atravessar as barreiras de proteção da casa, agora, caminhavam desesperadamente entre nós. Assim, todo tipo de energia circulava nos bastidores do trabalho e que eram percebidas por um pequeno grupo de médiuns da casa, mas passava desapercebida pela grande maioria que ali se encontrava, pois estavam pensando somente em seus próprios problemas ou apenas não percebiam por pura falta de atenção. A verdade é que a qualidade dos trabalhadores de uma Casa Espírita não é medida pela quantidade, mas apenas quando poucos se propõem a realmente trabalhar, no anonimato, esquecendo-se de seus problemas e de seus desejos. Assim sendo, é que começaria a reunião daquela noite:  com muitos presentes, mas, ao mesmo tempo, com poucos trabalhando. Vendo minha curiosidade sobre o porquê da presença de tantos seres das trevas naquela noite, João Guiné esclareceu: Quem lhe disse, Ortêncio, que eles estão aqui para atrapalhar? E, saiba mais, os espíritos que trabalham aqui não estão em alerta. Filhos, os espíritos que entraram aqui hoje são sim de legiões opostas às lições de amor do Cristo e, por isso mesmo, a equipe da casa permitiu que eles ultrapassassem as barreiras energéticas para que, assim, conseguíssemos, de alguma forma, alcançar seus corações e socorrer a alguns deles. – Mas, como isso será possível, João? Como vemos aqui, os trabalhadores estão sendo atingidos por essas energias pesadas e não estão se concentrando no trabalho, alguns já estão até passando mal. Já vi mesmo alguns princípios de discussão, não seria o caso de uma proteção maior? – perguntou Humberto preocupado. O preto velho pensou por alguns segundos, como se organizasse as ideias, e disse-lhe com sua calma habitual:  – Humberto, meu amigo, infelizmente o encarnado se abala muito facilmente e são poucos, em casos como o de hoje, que se preparam para o trabalho corretamente. Exageram na alimentação, nos sentimentos e, muitas vezes, nas brigas políticas dentro da casa espírita. Cada um quer estabelecer a sua vontade, se esquecem de que o trabalho de  ajuda ao próximo é o que realmente importa. Diante de tamanha fragilidade, o que aos vossos olhos parece um caos, isso tudo é estudado e preparado por meses e, dependendo do socorro, até por anos e, mesmo assim, o encarnado deixa brechas como as que você, hoje, vê aqui. – Então, como a espiritualidade trabalha para o sucesso desse tipo de socorro? Pois o que vemos aqui, João, é um grupo de espíritos diferenciado, eles são inteligentes e conscientes de sua condição, mas querem continuar assim, diferentemente dos chamados espíritos sofredores e ignorantes, ou estou enganado? – perguntei dessa vez. Quem me respondeu foi Felipe: – Todos os que estão afastados da luz do amor do Cristo, Ortêncio, são ignorantes. Porém, você tem razão, quando diz que esses seres têm conhecimento de suas condições e buscam, na verdade, lutar a favor do que acreditam ser o certo. Contudo, poucas casas espíritas, hoje, preparam seus médiuns para trabalharem com esse tipo de espírito, então, o que a espiritualidade faz? Dividem-nas por setores e usam o que de melhor elas têm. Por isso que você vê casas com uma grande concentração de cura, ou casas que chamamos de consoladoras, pois se especializaram em trazer notícias do além àqueles que aqui ficaram. Em todas elas ocorrem socorros e consolos, são como os hospitais que tratam no setor de emergência de tudo e, depois, dependendo do caso de cada paciente, os transferem para um especialista. Esta casa em que estamos é um centro de socorro e seus trabalhadores têm consciência disso. Apesar de suas várias funções, ela é a porta de entrada para uma importante cidade espiritual, por isso que tentamos preparar o encarnado, principalmente durante o sono físico. Metade dos trabalhadores, aqui, fazem parte da equipe de socorro e a outra metade se prepara para isso. Porém, sabemos que o peso do corpo físico influencia muito nesse trabalho, que é mesmo de formiguinha. Todos eles já foram avisados desse socorro e se prepararam com a equipe, porém, hoje, poucos seguiram suas intuições e são com eles que iremos trabalhar. Os que se lembram e seguiram nossas orientações farão a linha de frente, doutrinando e dando a passividade. Os que estão mais agitados farão a doação anímica de fluidos, que hoje será algo de extrema importância para o socorro. Sem que eu percebesse um daqueles seres ouvia a nossa conversa com grande atenção e quando Felipe terminou de falar, ele deu uma grande gargalhada. Estava vestido de trapos pretos, era branco e sua pele era tão pálida que quase dava para ver seu esqueleto. Felipe o olhou com piedade e disse: –  Seja bem-vindo, meu irmão, a esta casa e ao nosso grupo de estudos. Ele olhou para todos nós, friamente, e disse: Vai começar com palhaçada ou vamos conversa como adultos? – Quem aqui está de palhaçada? Realmente somos todos irmãos, pois o Deus que me criou também o fez. Eu estou mentindo? – Não, guardião, não está, mas pelo jeito ele gosta mais de você do que de mim: um filho rebelde. Porém, isso é um outro assunto. Eu estou aqui para saber de vocês e ver como é esta vida nova de luz... Convençam-me que isso é realmente bom ou eu acabarei com cada um de vocês. João, com um sorriso no rosto, lhe disse: Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo, fio,  por trazê-lo aqui e por nos dá a oportunidade, hoje, de aprendermos com você. Siga-me, por favor, pois hoje, você falará aos encarnados tudo aquilo que quer. Porém, prepare-se, pois também ouvirá algumas coisas. E, assim, nos preparamos para aquele diálogo que nos traria grandes revelações...

Nenhum comentário:

Postar um comentário