quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

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Após controlar minha emoção – o que não era nada fácil para mim – pude analisar e aprender com aquele lugar tão discriminado pela sociedade e que é transformado em “religião de pessoas ignorantes ou ruins”, pois, segundo o censo comum, “vão ali buscar o mal”. O que víamos, no entanto, era algo totalmente diferente. Tratava-se de um ambiente com uma energia acolhedora e que envolvia a todos, indistintamente. Índios e Pretos Velhos trabalhavam em harmonia e comandavam equipes de socorro tanto aos encarnados, quanto aos desencarnados, ou seja, a todos os que buscavam aquela casa. Naquela noite, a equipe de trabalho era a dos Índios, que fariam o atendimento e a assistência aos encarnados; os irmãos Pretos Velhos se encarregavam dos cuidados no plano espiritual e prestavam socorro aos espíritos que ali chegavam. Eu fiquei do lado de um médium, o qual atenderia com um índio de uma alta legião e muito respeitado no terreiro. O índio trajava um lindo penacho colorido que ia até os seus joelhos, estava vestindo uma roupa branca e ainda carregava um arco dourado amarrado em sua cintura. Algo que também me chamou a atenção: ele usava na cintura um cordão de São Francisco, como aqueles usados por padres franciscanos e que simboliza sua entrega ao trabalho. O médium que recebia sua influência era envolvido quase que por completo por sua energia. A ligação feita pela glândula mediúnica era multicolorida e continha uma força inexplicável. Logo se sentou em frente ao médium uma moça de quase trinta anos e que tinha um rosto bastante sofrido. Ao lado dela estava o nosso amigo Mário, bem como Adélia. – Ôxe, que a filha seja bem-vinda a nossa casa. – começou a falar o índio através do médium. – Ôxe, o que esse pode ajudar a filha? – Olha, irmão, eu queria ajuda. – disse a moça – É que, desde que perdi meu pai e minha mãe, nada dá certo na minha vida. Eles é que me ajudavam e agora estou sozinha nesse mundo. Perdi meu emprego, meu marido quer a separação, não sei mais o que fazer! – Lógico que tudo dá errado, ela abandonou o pai e deixou ele dormir no cemitério. Isso é castigo de Deus! – disse Mário. – Fique quieto homem! Só escute. – disse Adélia. – Ôxe, filha, como você perdeu aquilo que não era seu? A filha acha que as coisas que aconteceram em sua vida, que tudo isso se deu por causa da morte de vosso pai e de vossa mãe, mas esquece de sua responsabilidade. Eles cumpriram, filha, seu tempo na terra e, agora, precisam de paz para conseguir trabalhar no plano espiritual. Os vossos pais não eram pessoas boas, filhas? – Sim, irmão, eles trabalharam muito, me educaram com muito amor, nos deram princípios. – respondeu a moça. – E, então, o que a filha quer mais? Os pais não podem viver sua vida por você, filha. Eis que é hora da filha seguir sua caminhada, tomar o leme de sua vida e ir em busca de crescimento. Os vossos pais sempre estarão do vosso lado em espírito e nos exemplos que deram à filha. Envolvido pela energia dos irmãos que o cercavam e por outro médium que também se aproximara, Mário chorava copiosamente. Assim sendo, a equipe o ligou a esse médium e, como se dizia naquele terreiro, fizeram a puxada. Recebendo desse modo o choque anímico de que precisava para acordar para sua realidade. Uma maca foi colocada próxima de Mário que acabara de despertar para a realidade, uma vez que, normalmente, por esse tipo de técnica, o espírito recebe um choque e, consequentemente, dorme em seguida. Foi isso que aconteceu com Mário que agora seria socorrido e levado à colônia Recanto de Irmãos. – A filha, agora, tem que cuidá de si e trazê para si a responsabilidade dos seus atos e de sua vida – continuou o sábio índio – Não vai adiantá esse aqui, filha, dizer que vai ajudá, nem pedir pra filha acender vela ou fazer um descarrego, se a filha não se ajudá, não mudar a vibração e ainda continuá culpando a morte de vossos pais de trazer problemas pra filha. A moça também estava sendo acordada pelos conselhos do índio e luzes coloridas caiam sobre ela. A filha qué melhorá? – perguntou o índio. – Sim, meu irmão. – respondeu ela. – Então, a filha sempre vai encontrá nessa casa ajuda. Faça o evangelho ou venha aqui. Nessa casa tem evangelho. Ou em outra casa. Ore por vossos pais e mude as vibrações. Que Deus acompanhe a filha, viu? Eu estava impressionado com o trabalho ali realizado e com toda a organização. Os trabalhos estavam chegando ao fim no plano físico, mas nós continuaríamos ali, por algum tempo, aprendendo com os dirigentes da casa de Umbanda. Observamos, por exemplo, que as energias usadas no socorro e na ajuda aos desencarnados, comumente classificadas por muitos como primitivas, eram o que equilibrava as vibrações daquele local. Mas foi Humberto quem perguntou: – Como podem essas oferendas todas – as frutas, as velas e os charutos – ser usadas como material de cura?  João sorriu e disse: – Humberto, como não usar para o bem tudo que temos à mão? Porém, nenhuma folha cai de uma árvore sem que isso seja para a evolução. Venha! Nossa noite será longa, pois aprenderemos muito com nossos irmãos hoje...   

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