domingo, 28 de abril de 2013

Página 11

Retornamos até o portão que nos levava de volta ao centro da cidade. Andávamos em silêncio, pois eu aproveitava para ouvir o canto dos pássaros e admirar a quantidade infinita de flores e plantas que meus olhos carnais nunca tinham visto como agora viam os olhos espirituais. Quando chegamos ao centro da cidade, Henrique disse: – Logo mais, as filhas de Iemanjá falarão no Campo do Esclarecimento, Ortêncio, e seria bom você ouvi-las. A esta altura, eu já me sentia mais à vontade e começava a colocar meu espírito curioso em ação, então, perguntei: – Campo do Esclarecimento? O que é isso Juvenal, meu filho, me desculpe, Henrique. – Não se preocupe pai Ortêncio, não é necessário que peça desculpas, pois aqui o que menos importa é o nome pelo qual chamamos uns aos outros. O importante é que nós estamos juntos de novo e que nossos laços de amor serão mais fortalecidos a cada dia. Mas, respondendo sua pergunta, o Campo de Esclarecimento é onde reunimos os recém-chegados e também espíritos ainda encarnados para esclarecê-los sobre esta cidade. Todos os dias e por mais de uma vez, temos palestras ministradas pelos que aqui já residem há algum tempo. Assim sendo, fomos caminhando para o lado leste da cidade e chegamos a um portão azul e, ali, novamente Henrique voltou a me esclarecer: – Ortêncio, como já disse, hoje as palestras estão sendo proferidas pelas filhas de Iemanjá, daí a presença das águas nesse cenário em azul. Não se espante se da próxima vez que você voltar a este campo ele for diferente, pois cada equipe trabalha aqui as energias da maneira que acha mais conveniente e necessária para cada público. Para meu espanto, quando atravessamos o portão, dei de cara com um lindo cenário aquático: o chão se transformara em um imenso piso azul, com estrelas e peixes de todas as cores desenhados sobre ele. Homens e mulheres em trajes azuis-celestes nos recepcionaram e nos indicaram o local para sentarmos. Não havia cadeiras, sentávamos todos em lindas poltronas individuais, em forma de gota d’água. Havia um agradável cheiro de maresia, além de um leve som de oceano que preenchiam o ar. Não sei ao certo quantas pessoas estavam ali, imaginei que seriam mais de trezentas e, à nossa frente, víamos uma linda cascata que despendia suas águas e diante dela vários lugares eram preenchidos pelos espíritos que ocupavam o púlpito. Quando todos estavam acomodados e em silêncio, uma linda jovem trajando um belo vestido azul-celeste se dirigiu ao púlpito. Tinha a pele branca como a neve e seus cabelos pretos passavam quase despercebidos em comparação com a beleza de seus olhos verdes e mediante sua aura, que era de um verde azulado irradiante. – Sejam todos bem-vindos meus amigos. Eu me chamo Esmeralda, sou da 7ª Legião de Iemanjá e, hoje, tenho muito prazer em ser vossa anfitriã. Quantos de vocês enfrentaram as tormentas da vida para estar aqui agora. Sim, isso foi por merecimento, mas, todo merecimento gera obrigações e responsabilidades. Assim, é para os que aqui residem, na cidade de Aruanda, e também para vocês que ainda estão na carne, todos devem saber que nessa cidade temos nosso livre-arbítrio e, portanto, temos o direito de ficarmos apenas ocupando nossas ocas de recuperação, nos lamentando pela saudade que possamos sentir daqueles que ficaram na vida carnal ou pela memória das dores e provas que passamos na vida. Porém, pergunto a vocês, por que desperdiçarmos o tempo tão precioso dado pelo Pai celeste, quando poderíamos estar fazendo algo melhor para nossa evolução? Muitos de vocês que hoje aqui estão, questionando acerca de tanta tristeza, e de “tantas lutas em vão”, encontram-se ainda perdidos no egoísmo da depressão, se sentindo rejeitados pelo pai. Mas, olhem para os oceanos onde reinam as energias de Iemanjá, tudo ali poderia ser sem vida, pela falta de oxigênio e devido ao alto teor de sal presente na água, mas os seres que lá nasceram se adaptaram às condições do seu lar e, por isso, os oceanos são ricos em vida e harmonia. Pergunto, então, por que estamos nos perdendo nesse mar chamado vida e nos afundando onde deveríamos flutuar? A vida é o mar de oportunidades, onde o espírito usa o corpo como barco e se você espírito não segura forte o leme do seu barco ele fica à deriva sem chegar a lugar algum, e, quando perdemos um barco, é necessário que se construa outro para se navegar. Agora, nesse mar chamado plano espiritual. É isso que pedimos a vocês todos e aos novos moradores de Aruanda, é hora de começar a reconstruir vossos barcos. E como faremos isso? Com trabalho, se dedicando ao estudo em nossas instituições de ensino, aprendendo para ajudar a si mesmo, ao seu progresso individual e ao dos irmãos, no caminho em direção ao Pai maior. Esta cidade está aqui para isso e dá a cada um de vocês a oportunidade e todos os recursos para que não se percam nos mares da ilusão, basta que esqueçam o orgulho e tenham paciência. Sabemos o quanto é difícil voltar à pátria espiritual sem que se sinta falta daqueles que estão no plano carnal e longe de nós. Não pedimos que vocês esqueçam os laços de amor com os espíritos que lá ficaram, mas lembramos de que neste momento você está à deriva, em mar aberto, e, se não encontrar seu caminho e nem construir seu barco, se perderá daqueles que continuam navegando no plano carnal... Meus olhos estavam marejados e percebi que também os de muitos dos que ali se encontravam, na mesma situação. Esmeralda encerrou sua explanação com uma linda oração. Eu e Henrique nos dirigimos a minha oca. Eu agora tinha muito que pensar e precisava descansar. – Ortêncio  – falou Henrique – mais tarde eu voltarei para levá-lo a uma reunião com os guardiões de Aruanda, pois eles estão interessados em ter informações sobre seu tempo no umbral. Agora, descanse amigo.

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