segunda-feira, 22 de junho de 2015

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Nenhum de nós, por respeito ao Preto Velho João Guiné, fizemos qualquer questionamento sobre o que aconteceu ali. Recompô-mo-nos e, para que ganhássemos tempo e energia, aguardamos a caravana de socorristas. O Preto Velho se manteria calado por mais de uma hora e por algumas vezes as lágrimas banhariam seu rosto moreno, sumindo em meio a sua barba branca como algodão. Após o socorro daqueles que de boa vontade acompanharam a caravana, João abriu um sorriso e disse: - Que assim seja!. Ficaríamos  no veículo por algumas horas e, após uma reunião, novamente estávamos nas ruas escuras da cidade. Porém, algo diferente acontecia ali, não sei como isso pôde acontecer afinal, mas o ar ficara mais pesado e já não pisávamos em nada sólido, pois as ruas tornaram-se pântanos rasos. Intrigado com o que acontecia, Humberto perguntou: - O que acontece aqui? O que é este líquido e como ele chegou até aqui? Foi o guardião Felipe quem respondeu: - Isso, amigo evangélico, acontece por dois motivos, primeiramente, o que pisamos é fruto do pensamento, tanto de espíritos encarnados quanto de desencarnados. Além disso, os chefe da cidade devem ter abandonado seus postos, desse modo derrubando tais criações psíquicas e que aqui são formadas com a ajuda deles. - Mas, por que eles abandonaram a cidade? Eles não a abandonaram, exatamente, apenas sentiram nossa presença e fugiram. Retornarão logo depois de nossa saída. - Mas, eles não sabem para que estamos aqui? - perguntei. Desta vez quem nos respondeu foi Cesar: - Não, Ortêncio, o que eles sabem é que estamos aqui, já o motivo de nossa missão é um mistério e mesmo que o soubessem teriam a mesma atitude. Os mensageiros da escuridão gostam de agir na surdina e temem o confronto e debate pacífico ou  mesmo saber a respeito do que o povo de Aruanda está propondo a esta cidade. Em outras palavras, são covardes, pois sabem que não não possuem um argumento concreto para rebater nossa proposta. A esta altura paramos de frente a um prédio e que também se encontrava protegido por seres animalescos e com energias difíceis de explicar. Eles logo reconheceram a autoridade dos espíritos que se faziam presentes e um deles, um ser alto de vestes pretas, usando uma grande cartola, além de uma bengala de caveira, e que apresentava as partes visíveis do seu corpo em estado de putrefação. Dele, aliás, se exalava um cheiro de cadáver. Ele nos sorriu e nos disse: - Sabem bem que não são bem-vindos aqui, não sabem? - Que Jesus esteja convosco. - disse Felipe. - Que Jesus esteja com você, traidor das tradições, e não comigo - respondeu o ser. Felipe, que começara a mudar o seu perispírito, em segundos, já usava a forma assustadora de uma caveira coberta de negro, com sua espada e cintos prateados, contrastando com o negro de suas roupas. O ser se apequenou perto do guardião, que o encarou de cima a baixou e que, com uma voz que doía os ouvidos de tão aguda, lhe disse: - Não espero que você me respeite ser das trevas, mas respeite o nome daquele que me mandou aqui para dar uma chance a seres como você, perdidos na escuridão. Meu nome é Felipe na religião que você chama de mesa branca e sou Exu Caveira na que você chama de tradição. Então, perceba que o traidor aqui não sou eu. Por um momento, pensei que os guardas fugiriam. Mas, o homem, olhando para Felipe, lhe disse: - O que queres aqui? - Temos um recado para um dos seus generais. Viajamos muito para chegar aqui, então o avise que chegamos e que João Guiné e a equipe de mensageiros de Aruanda se fazem presentes em nome de Jesus. Solicitamos uma audiência com ele. - Meu chefe é um homem ocupado e não recebe ordens, em nome do cordeiro. - disse o ser. Felipe, que puxara sua espada, a ergueu no ar e disse: - Não tornarei a pedir pacificamente ser das trevas. Os olhos dos guardas brilharam de medo, pois perceberam que nenhum de nós interferiríamos a seu favor. - O fio peça permissão para nossa entrada pacífica ou entraremos de outro jeito. - disse João Guiné. O homem entrou e nós ficamos aguardando do lado de fora. Meu coração estava acelerado e Maria, para variar, segurava minha mão. Ela sorriu para mim e disse: - Chegou a hora, meu velho, acalma-se, pois Jesus precisa de você...

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