domingo, 12 de abril de 2015

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O transporte da equipe de Maria voltaria à Colônia para ajudar aqueles que ali foram socorridos, e nossa equipe permaneceria por ali para começarmos nossa missão. Após algum tempo e depois da explicação de João Guiné, eu já conseguia me equilibrar, falo por mim, porque a reação dos outros membros, já acostumados com este tipo de socorro e de lugar, foi a de começar a trabalhar imediatamente e a minha e em parte a de Humberto foram reações de desespero. - Fios, - disse o Preto Velho - nenhum dos irmãos que aqui estão são pobres coitados ou estão sendo castigados por Deus, mas, sim, precisam de nossa compaixão por estarem perdidos na escuridão. Por sua ignorância acerca do amor é que chegaram a este estado, criado exclusivamente por sua recusa em aceitar as Leis Divinas. - Que Leis são estas, João? - perguntei. - Este pântano tão sofrido é alimentado por espíritos que se recusam a aceitar a Lei Divina do progresso, retardam o processo reencarnatório até seus perispíritos tornarem-se o que vimos, quando então são aqui dispensados pelos senhores das trevas. Muitos dos que aqui estão são servos leais da escuridão e assim vão permanecer por muito tempo até alcançarem a condição primária de ovóides e ainda serem usados nos planos dos generais como parasitas. Soraia e os índios Pena Branca e Cobra Coral faziam o reconhecimento da área, enquanto João dava-nos suas explicações, a equipe de guardiões cercava o perímetro e era chegada a hora de adentramos aquele local. Descemos, então, de nosso veículo e andamos por algum tempo com a lama na altura de nossas canelas. Tal esforço nos gerava um tipo de cansaço quase físico. Não eram raras as vezes em que mãos nos agarravam, pedindo socorro, e em todo o tempo João recomendou-nos a prece e que não sentíssemos pena daqueles que ali colhiam os frutos daquilo que eles próprios haviam plantado. O solo foi ficando firme afinal, apesar de ainda permanecer negro e úmido, portanto, já começávamos a caminhar com certa facilidade, deixando o pântano para trás, embora a escuridão ainda nos impedisse de ver mais de dois passos à nossa frente. Por isso, andávamos devagar e o mais próximo possível uns dos outros. Com suas armas em punho, os guardiões nos cercavam e assim chegamos ao portão da cidade. Tratava-se de um portão sem muros, apenas um enorme arco construído com ossos de centenas de esqueletos. Por ordem de Soraia paramos defronte este portão e que mais me parecia uma espécie de portal, quando surgiu uma sombra: um ser que vencia a escuridão, ostentando uma capa tremulante. Soraia por sua vez continuou caminhando, bem como o tal ser que vinha do outro lado, até ficarem os dois debaixo do assustador arco. Durante alguns segundos analisaram-se e, em seguida, abraçaram-se, calorosamente. Nenhum dos dois passou para o lado oposto do arco. Ao sinal do Guardião, continuamos andando ao encontro deles e, a cada passo, minha surpresa era sempre maior. Vi que o homem media cerca de um metro e noventa, tinha pele clara, usava uma roupa preta e, além da capa com forro vermelho, trazia em sua cintura uma espada. Ele nos sorriu e Soraia fez as apresentações: - Senhores, esse é Cesar, nosso guia e informante para essa missão. Que possamos ouvir o que ele tem a dizer. - Amigos, a situação nessa cidade é calamitosa. Os governantes aqui estão formando planos para desestruturar várias ordens religiosas e sabemos que para isso não precisam de muito, já que os seres que habitam a terra estão cada dia mais vulneráveis a esse tipo de ação. Porém, o plano deles dessa vez não é apenas atacar religiosos por meio do orgulho e da vaidade já existentes neles próprios é também o de desmoralizar as religiões, fechando assim as portas de várias instituições que, ainda que com suas mazelas, trabalham para o bem maior. A primeira tentativa foi falha e os Dragões, responsáveis por esta tarefa, estão inflamados pela derrota em campo. - E qual foi esta derrota? - perguntou Humberto. - Uma das mais antigas religiões da terra passa por transformações importantes e seu último líder foi atacado incessantemente até que renunciasse ao seu posto, uma vez que, influenciado pelo mal, se viu incapaz de cumprir aquilo que havia planejado pelo altíssimo. O plano dos dragões era deixar a religião ainda mais enfraquecida e fechada em seus dogmas e eleger um dos seus "religiosos" para o cargo de maior importância dessa religião, porém, por meio de uma equipe comandada por espíritos de alta envergadura em uma missão de grande porte e que precisou de quase um terço da população espiritual terrestre, entre tais espíritos alguns conhecidos pelo homens como santos, o Plano Maior elegeu um sucessor que mudará tudo o que hoje se tem de mais decadente e atrasado nesta religião. Porém, agora, esta cidade irá atacar os religiosos do país que está marcado para ser o coração do Evangelho do Cristo e poderá causar grandes prejuízos, caso seus religiosos não se preparem de maneira correta, fortalecendo-se no amor e no conhecimento. Todos nós ouvíamos aquilo atentamente e em particular eu me lembrava da falta de respeito e de caridade que líderes religiosos têm comumente uns com os outros, sobretudo ao defenderem seus pontos de vista. Ah, se eles soubessem o quanto se trabalha aqui desse lado da vida para o amor prevalecer! Então, se uniriam e em uma única voz e sentimento, se juntariam ao mais alto, formando um único exército: o do amor ao próximo...

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