segunda-feira, 17 de março de 2014

Página 42

A casa era tão bonita por dentro quanto por fora. Bete esperava em uma sala decorada com lindos quadros, representando os orixás, e que ostentava um bonito e confortável sofá e também uma pequena mesa, na qual se encontrava uma moça e que passava por secretária de dona Maria. Ela aparentava ter cerca de trinta anos, vestia uma grande saia branca, rodada, uma camisa de renda, tinha um turbante de panos brancos superpostos na cabeça e usava guias coloridas em volta do pescoço. E como era linda aquela menina que estava ali para orientar os que chegavam, procurando o trabalho daquela senhora! Ela disse a Bete: – Senhora é só aguardar que mãe Maria logo a atenderá e resolverá o seu problema, seja ele qual for. As duas começaram uma conversa descontraída, na qual Bete contou parte do motivo que lhe trouxera ali. Tratava-se, portanto, de um cenário até comum no plano físico. Já no mundo espiritual e que circundava tal cena, a situação era completamente diferente. Nunca imaginei que em uma casa tão linda o cenário espiritual pudesse ser tão inferior. Havia um cheiro podre de carniça, misturada com enxofre, como se algo muito estragado estivesse sendo cozido. Era algo quase insuportável. Pessoas de preto e envoltas em campos vibratórios carregados de ódio caminhavam o tempo todo como se ali estivessem trabalhando. Das paredes e quadros, e que eram tão bonitos na matéria, escorriam, no entanto, uma lama suja, recoberta de vários tipos de insetos. Os espíritos que ali se encontravam não nos percebiam. Quando Humberto perguntou, num tom de voz que revelava certo medo: – Por que eles não nos veem, amigos? Não estamos correndo perigo aqui? Foi Felipe quem respondeu: – Devido sua condição vibratória. Eles estão muito abaixo de nossa sintonia, amigo Humberto. – Isso quer dizer que por sua ignorância é que eles não nos percebem, não é Felipe? – eu disse. – Também, meu amigo Ortêncio, mas nem sempre é esse o motivo, pois a sintonia não é influenciada apenas por uma questão de conhecimento, mas, principalmente, por meio dos pensamentos. Muitos desses irmãos, diferentemente do que pensam os encarnados, possuem conhecimentos em vários campos da vida, estudaram e até mesmo conhecem a missão cristã, mas ainda assim preferem outro caminho e, então, suas intenções, seu comportamento e seu trabalho no mal é o que lhes proporciona um campo vibracional diferente e não necessariamente sua ignorância, pois, embora eles possam ter conhecimento do que seja o bem, não o vivenciam. –  disse-nos o guardião. – Como um espírito assim pode ser socorrido? – perguntei surpreso. – Manoel, meu querido – disse Maria – por duas maneiras: a primeira é pelo arrependimento, pois quando um espírito desses quer sair dessa vida, ele é tocado em seu coração e, devido a sua sinceridade, ele entra, pelo tempo necessário ao seu socorro, em nossa sintonia e começa, então, a ver os mensageiros do amor do Cristo e que sempre estiveram ali para ajudar a tirar os que estão na escuridão; a segunda opção é pela necessidade propriamente de ações do plano maior, como aquela que te resgatou. Nesse caso, os espíritos que pertencem a uma sintonia superior descem à escuridão para resgatar das trevas os seres em dor e sofrimento, filhos de Deus Pai, dando-lhes assim a oportunidade de recomeçar. Mas, e se eles recusarem esta ajuda? – perguntou Humberto. Foi João quem respondeu: – Fio, a lei de Deus é irrecusável, chega um momento que a lei prevalece. O pai maior não nos obriga a nada, mas a lei é imutável e sempre nos alcança, sendo a Justiça Divina igual para todos. Então, mais cedo ou mais tarde, ela nos alcança, nos abraçando com o amor necessário para nos colocar no caminho do bem. Nesse momento, a porta da sala de dona Maria se abriu e Bete entrou por ela, mas nós a acompanhamos na consulta. A sala era grande e se encontrava a meia luz, por causa das velas acesas no recinto. Havia um congar lindo, luxuoso, com grandes imagens e que o tomavam inteiramente. Dona Maria era uma jovem senhora vestida como a moça da recepção e que se encontrava sentada em uma cadeira de palha. Ao lado dela, havia um espírito de negro e que se alimentava das energias do álcool e do fumo e que a médium consumia durante as consultas do dia. Bete sentou-se em frente à médium, a qual permaneceu calada por alguns minutos. Por fim, falou com uma voz rouca: – Sofrendo, né moça? – Vamos ver o que posso fazer por você? E, após Bete contar o que acontecia com ela, o espírito deu seu veredito: – Pelo que a moça me contou, alguém tirou o moço de você. E eu posso trazê-lo de volta, porque ele é seu, viu? Mas isso tem um preço, viu? A moça tá disposta a pagar? – Sim, senhor, eu pago qualquer coisa para ser feliz, é só falar como e quando. – Isso a moça vai negociar com meu cavalo aqui. Ela vai lhe dar a lista de material para o trabalho e o preço, viu? O espírito deu um tipo de passe em Bete, que, então, esperou que dona Maria voltasse do transe e lhe desse a lista, bem como negociasse com ela o preço do trabalho que iria trazer seu amor de volta. Quando Bete saiu da casa de dona Maria cheia de falsas esperanças, ela tinha outro problema: como arrumaria tanto dinheiro. Os valores eram altos e mesmo a quantidade de produtos era grande e ela não possuía tanto dinheiro assim...

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