terça-feira, 14 de maio de 2013

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Eu não conseguia responder, pois meu medo não deixava. Então, a caveira riu e disse: – Como podem ver, Ortêncio é um exemplo de como a sociedade nos vê, mesmo um homem que trabalhou toda a sua vida conhecendo nossa energia, ele nos teme devido sua ignorância. Eu continuava quieto e cada vez mais envergonhado, até que um dos seres com batina falou. – Não podemos culpar Ortêncio, ou qualquer um que seja, por sentir medo do desconhecido ou do mal conhecido. E a caveira, mirando-me respondeu : – O irmão Jeremias tem razão, mas falo a você, amigo Ortêncio, que não há necessidade do medo ou de qualquer outro sentimento que não seja bom. Sei que a forma perispiritual de muitos aqui te assustou, mas, pergunto ao amigo, não é assim que vocês nos idealizaram? Somos os coletores de lixo do além. Não somos o lixo, rebaixamos nossas energias até estarmos próximos àquelas dos seres encarnados, e, desse modo, termos uma comunicação mais fácil com os que ainda estão na carne, bem como com aqueles que já não estão mais nela, mas ainda estão afundados nos sentimentos mais grotescos que se possa imaginar. Porém, não somos apenas o que seus olhos veem, amigo. Ao falar isso, ele foi envolto por uma luz branca e sua forma foi se modificando. Foi se transformando em um homem de pele branca, com olhos azuis. Suas vestes foram se transformando em uma linda armadura dourada e, quando toda a luz se dissipou, eu tinha na minha frente um lindo ser de aparência angelical. Viu, amigo, como somos muito mais? Não importa a forma com a qual me apresente, eu sempre serei o espírito Felipe que, a cada dia, apenas tento fazer meu trabalho junto às Leis de Deus e do universo e em nome do nosso senhor Jesus Cristo. Senti que eu já conseguiria falar, pois estava mais calmo. Assim, fiquei de pé, dei dois passos e me ajoelhei diante da assembleia de guardiões e disse: – Senhores e senhoras, guardiões de Aruanda, pelo que vejo das leis maiores, eu, este espírito ainda ignorante e cheio de preconceitos, peço perdão por blasfemar contra vocês e usar vossos nomes de maneira irônica e me coloco à disposição de todos aqui para aprender a ajudar, no que for preciso e da maneira que for necessária, para, assim, reparar meu erro. Um coro se fez: – Laroyê, Ortêncio de Aruanda! Uma linda mulher de cabelos negros e pele cor de jambo me disse: – Levante- se, amigo, pois nós não temos do quê te perdoar, pois, assim como você, temos muito o que aprender. Agradecemos por você estar aqui hoje. Assim como cada um que aqui está, como cada ser que foi criado pela mão do Altíssimo, você é nosso irmão, como todos os outros. Então, me levantei e percebi que todos estavam de joelhos, como eu estivera. Quando se acomodaram novamente, Felipe pediu que eu relatasse tudo o que conseguisse me lembrar da minha viagem até ali. Meu relato durou horas.  Alguns o registravam por escrito, outros fizeram perguntas, iniciavam debates sobre alguns aspectos do que era relatado, até que, finalmente, dei minha narrativa por terminada, estando exausto. Foi a vez de Gabriel me falar: – Ortêncio,  montaremos uma estratégia com o que você nos passou e, proximamente, uma caravana sairá em expedição à costa terrestre para colher mais informações. Nesse meio tempo, espero que você esteja preparado e recuperado, pois precisaremos da sua ajuda. Você ficará incumbido de relatar aos que estão na carne a respeito dos bastidores de Aruanda. No mais, seja bem-vindo à nossa cidade. Com uma linda oração, ele encerrou a reunião. Eu saí daquela sala com muitas interrogações, não tinha entendido como eu iria passar aos encarnados o que ali acontecia e muito menos tinha vontade de fazê-lo e, por isso, disse ao Henrique: – Eles são seres intrigantes, mas também são loucos! Eu não posso ajudar, como farei isso? – Calma Ortêncio, todas as respostas virão no tempo certo. Amanhã cedo, depois da visita de Maria, você conhecerá a legião de Omolu e muitas das suas perguntas serão respondidas pelo irmão Eric. Agora, amigo, vamos. Você precisa descansar...

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